domingo, 17 de junho de 2007

O que acontecia no mundo e na minha vida - Parte IV - Científico

Terminado o Ginásio, eu quis trocar de escola, e fui para o Júlio de Castilhos, o "Julinho". Estudei lá entre 1973 e 1975. O Julinho era a maior escola pública do Rio Grande do Sul, da região sul, do Brasil, do mundo!! Enormes corredores, paredes de vidro na frente, muitos alunos, muitos professores, sacadas gigantescas, uma praça na frente, o recém inaugurado centro comercial João Pessoa ali ao lado. Todo dia tinha um monte de coisas acontecendo na escola, em especial nos corredores. O Brasil vivia uma ditadura, 1973 foi o último ano do governo do Presidente Médici. Em 1974 começou o governo de Geisel. Se falava muito em censura no Julinho, eu nem conhecia a palavra, ali fui apresentado a ela, eu falava que tinha censura, mas na verdade não tinha a mínima ideia do que exatamente estava sendo censurado, e nem como seria minha vida sem censura. Eu comecei a entender melhor o que era o comunismo. Um dia um candidato a senador, chamado Nestor Jost, da ARENA, foi visitar o colégio, e nós protestamos, vaiamos, foi um tumulto enorme, veio a polícia. Foi a primeira vez que participei de um movimento de reivindicação. A gente tinha aula de filosofia com um padre, que levantava perguntas filosóficas, que rendiam uma discussão acalorada na aula.
Quanto eu terminei o Científico, eu entendia um bocado de política, de partido político, de ditadura, da necessidade de lutar contra a ditadura. Eu fiz o Científico trabalhando, primeiro fui office-boy, depois digitador em banco. Mas trabalhei num monte de empregos ao longo desses três anos, tinha carteira assinada, ganhava salário mínimo de menor. O trabalho no banco era de madrugada, começava as 19 horas, e terminava as 4 da manhã. E eu estudava de manhã no Julinho, e dormia a tarde. Na época eu gostava de ver corridas com Emerson Fittipaldi, não existia o Ayrton Senna. Em 1975 morreu Érico Veríssimo. Embora eu seja de uma família de classe média baixa, a gente morava na mesma rua que ele em Porto Alegre, a Rua Felipe de Oliveira, a casa dele existe até hoje, e eu me lembro dele caminhando com a Dona Mafalda, e cumprimentando o meu avô paterno, que morava com a gente. O ano de 1975 foi muito intenso, pois eu estudava de manhã, fazia cursinho a tarde, e trabalhava a noite. No final do ano, despedida do Julinho, todo mundo entrou no lago que havia na praça em frente a escola, gritaria, abraços, pedágio na avenida para conseguir dinheiro e ir beber. Em janeiro de 1976 fiz vestibular na UFRGS, para o curso de Geologia, e passei. Na época, a gente ficava escutando pelo rádio a lista dos aprovados, até que escutei meu nome, e o código do curso, que era 14. Foi uma grande alegria!

Um comentário:

isabel disse...

Professor Fernando!
Eu admiro muito as pessoas como você , que se envolvem com a história da nossa sociedade.Porém, história não é o meu forte. Por outro lado,você foi um previlegiado por ter morado pertinho do"nosso" Érico,que inveja...(no bom sentido) >acredito que vou aprender muito com você a gostar um poucfo mais de história. Não vejo a hora de lhe conhecer e poder compartilhar " saberes".Até quinta-feira. Beijos. Isabel Machado.